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A mostrar mensagens de 2015

Nós, os imbecis

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“As circunstâncias é que dão peso às palavras. Os imbecis não o sabem, falam no mau momento e não chamam a atenção de ninguém. Algumas orelhas distraídas ouvem-nos; ninguém os escuta.”    Fafali Koudawo In “O Desaparecido”, 2002                                                                                                                                                                                Cumplicidade uma vida inteira Faz hoje quarenta dias que Koudawo nos deixou. Quarenta dias, mas é como se tivesse sido esta madrugada. Da infância trago a convicção de que é este o prazo para se interiorizar a partida para o além de um parente. A fórmula é aguentar quarenta dias – nem mais, nem menos – e depois carregar no botão Play e tudo retoma o seu curso normal. Sem mágoas, sem ressentimentos, sem remorsos…   Que ilusão! Um tão longo cortejo fúnebre Quarenta dias é suposto ser o prazo de validade para todas as sensações e manifestações de kasabi . Findo ess

Ode à Independência

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Volvidos mais de quarenta anos, e malgrado todas as contrariedades e os inúmeros dissabores entretanto vividos, a Independência continua a ser aquilo que sempre foi para mim: um momento supremo de realização pessoal e colectiva. São poucas as ocasiões comparáveis em toda a minha vida. Raras vezes tive o privilégio de depositar tamanha certeza na transcendência de um acontecimento.                                                                                                                                                                                     "Pelos seus frutos os reconhecereis" Sonhos e Dependências Memórias da adolescência há muitas. Geralmente a maioria delas não sobrevive aos efeitos corrosivos do tempo e dissipa-se com maior ou menor veleidade, com ou sem vestígios. Despejadas pelo tempo, essas memórias dão lugar a ideias e imagens, pretensamente mais consentâneas com aquilo que aspiramos assumir, em cada etapa, como nossa própria imagem.

A outra mistida

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  ... mãe, deixa o meu outro eu, aquele que mantive imune, procurar asilo no teu ventre. E se me perdoares, mãe, se me esqueceres, ficarei à espera de mim. E no teu próximo parto, mãe, eu serei eu mesmo.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             A cada um a sua inconfessável, inquestionável, inadiável mistida  ? Eu. Sou eu e não eu ao mesmo tempo. Em cada instante . S ou como a fotografia. Eu e não eu. Uma eternidade feita momento. Um único momento. Finito. Sem intimidade. Sem vizinhança. Sem esperança. Olho para mim, para a minha sombra, e não me encontro.

Entre aspas

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Este artigo foi publicado no semanário "Banobero" em Agosto de 1999, altura em que se discutia no Parlamento a nova lei da cidadania.                                                                                                                                                                    Entre Aspas  Os debates que tiveram lugar nos últimos tempos no Parlamento sobre a Lei da Cidadania fizeram-me lembrar uma confissão de um amigo e colega de infância aquando da minha última visita à minha tabanca natal: “a língua portuguesa é muito complicada, não dá para escrever” . E tudo por causa de uma situação que não conseguia exprimir convenientemente devido, aparentemente, à confusão que lhe causava um único e simples acento. Uma situação que no fim da nossa conversa acabou em constatação, antes de ter sido preocupação e depois de passar por interrogação: “Afinal, nestas coisas de desenvolvimento   somos cágados ou estamos cagados? Quer dizer, cagados, entre a