Pabia di pabia
Por que estou sentindo esse desejo de quebrar essa tradição, muitas vezes tão conveniente, de seguir o exemplo do Katchurmangu, segundo o qual “kada kin sibi di sil”? |
Diz-se que o voto é
secreto. Concordo e apoio. Que assim continue a ser e para todo o sempre.
Nunca tive
necessidade de revelar, nem antes nem depois de votar, as minhas opções,
exceptuando, naturalmente, no círculo restrito de familiares e amigos. Mas desta
vez o meu voto não será secreto. Vou revelá-lo para todo o mundo saber e com a devida
antecedência.
Porquê? Por que
estou sentindo esse desejo de quebrar essa tradição, muitas vezes tão
conveniente, de seguir o exemplo do Katchurmangu,
segundo o qual “kada kin sibi di sil”?
É que nunca foi tão
fácil optar! Acreditem-me.
Nunca senti a
necessidade tão-pouco de me explicar relativamente às minhas opções quando se
trata do exercício dos meus direitos básicos, cívicos, constitucionais. Mas
desta vez decidi quebrar também essa tradição. E fá-lo-ei alto e bom som.
Porquê? É que nunca
de facto foi tão útil exercer esse direito, a sério. Votar nesta segunda
volta das eleições presidenciais é tão útil que deixa até de ser direito,
assumindo o carácter de obrigação. E como obrigação, os ditames são outros, as motivações
também. Entendem?
Nunca o futuro do nosso
país esteve tão incerto. Nunca os alicerces da nossa identidade nacional foram tão
ameaçados. Nunca a crença na promessa, tão fundamental que foi plasmada no
nosso Hino Nacional, de que “Nós vamos
construir na Pátria imortal a Paz e o Progresso”, esteve tão distante. Nunca
como hoje o medo, a insegurança, a amargura se apoderaram tanto do cidadão comum
guineense.
Porquê? É que de repente
tudo aquilo em que sempre acreditámos – os sentimentos que mesmo nos momentos
mais dramáticos de guerra jamais deixamos de acalentar – começa agora a
exibir-se, qual milagre, como uma fútil utopia. E os autores dessa ‘façanha’ estão
aí, à nossa frente, falando todos os dias para nós, mentindo, aldrabando, arrogantemente
revelando toda a sua pequenez. E assim, sem pejo nem pudor, mas sobretudo sem noção
do ridículo, ambicionam estes míseros actores reduzir-nos a míseros
espectadores.
E porque não nos
cabe este papel, “no na nega bedju”,
como recomendou o músico e visionário José Carlos Schwarz. Desse macabro espectáculo
é que não seremos observadores passivos. E aí apraz-me acrescentar “nunca,
nunca”, não fosse o seu autor aquele que já foi…
Sim, é o que eu
disse antes: no contexto actual e com os mencionados objectivos, votar torna-se
uma obrigação. Uma obrigação a que não se pode fugir. Sob nenhum pretexto. Os
25% de concidadãos que se abstiveram na primeira volta terão os seus motivos e motivações.
Eu compreendo-os. Partilho-os até… Só que agora, votar não é só um direito, é
uma obrigação. Que me seja permitido repetir-me…
É a obrigação de
escolher entre um candidato que está empenhado em ressuscitar os fantasmas e os traumas da desgovernação
que vivemos no início deste século e um outro que pode representar o renascer
da autoconfiança e, quem sabe, um novo alvorecer; é escolher entre o candidato que aposta no
exibicionismo fútil e na ideologia do ‘tafal-tafal’
e aquele que, em consciência, estaremos em condições de exigir responsabilidade
e prestação de contas; é escolher entre um candidato que simboliza o
obscurantismo e a falta de preparação e um outro que pode ser portador da tocha
da esperança; é escolher entre um agente manifestamente comprometido com os obscuros
interesses daqueles que ao longo das últimas décadas e de forma tão abusiva e hipócrita
têm apostado na desestabilização do nosso país e o candidato que dá sinais susceptíveis
de serem interpretados como comprometimento com o nosso verdadeiro desígnio de
terra de “Paz e Progresso”.
Compreenderão agora
por que é tão fácil escolher na segunda volta das eleições presidenciais que terão
lugar no dia 29 de Dezembro.
Todavia, ciente das
clivagens existentes entre os apoiantes dos dois campos, bem como do extremar
de posições que tende a acentuar-se entre as duas falanges, dirijo-me
particularmente a aqueles concidadãos meus que, provavelmente por força da frustração
e da revolta causada pela diskarna e
pela desgovernação dos últimos anos, decidiram não votar na primeira volta. A
esses concidadãos me atrevo a dirigir esta mensagem e fazer esta revelação: eu
vou votar no candidato que me dá mais garantias de eu poder continuar a acreditar
que nós guineenses, todos juntos, sem nenhum tipo de discriminação, irmanados nos
nobres ideais que simbolizaram a génese da nossa "Nação africana forjada na Luta", realizarmos o sonho
comum de, definitivamente, construir a "Paz e o Progresso”.
Eu vou votar no
candidato Domingos Simões Pereira.
Você, meu concidadão
ou concidadã, que não votou na primeira volta, sabendo que compreendo a sua posição,
peço que reconsidere a sua decisão. Se não fui suficientemente convincente nos
argumentos, peço que leia de novo este meu apelo. É que quando se trata de política,
como sempre disse um colega de infância, eu não tenho mesmo lata…
O mesmo apelo vale
para os que estejam a considerar não votar nesta segunda volta porque os
candidatos que apoiaram não passaram. Vote. E sabe porquê? A opção é fácil. E é
útil também… Na verdade, nunca foi tão fácil escolher, nem tão útil sujar o
dedo com aquela tinta que se diz ser indelével!
É o futuro do país,
a sua afirmação como Nação soberana, que está em jogo. Lembrem-se.
PS: como não tenho
mesmo lata, e depois nunca fiz nada semelhante a isto no passado, se tudo o que
aqui escrevi não for suficiente para motivá-lo(a), caro(a) concidadão abstencionista,
pense nisto: “Si fere ala, fetchere fere
ko fere dei!”
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