Plaidoyer para uma nova identidade guineense

Aos escritores guineenses está reservada uma missao especial: Forjar um genuíno ‘senso de perspectiva’, consubstanciado na inabalável crença na renascença e nos novos padrões de identidade, que fará acalentar a certeza de que, sim, a profecia será concretizada: “Nós vamos construir na pátria imortal a paz e o progresso”.

Setembro é um mês especial na nossa terra. É a altura do ano em que se renovam as esperanças e se alimentam os espíritos para um ano inteiro. É o início da época da colheita: milho, tifa, pepino, mancara em abundância, para saborear assado ou firbintido, como petisco ou mesmo para djanta-ku-sia. Nas bolanhas e nas florestas as plantas ganham robustez e um verde exuberante. Dos rios e das lagoas chegam bentanas para todos os gostos e sabores, esquilões en pagaille. Marcando o início do fim da época chuvosa, Setembro é também a altura de marcar as datas dos mais relevantes eventos nas comunidades, quer sejam elas rurais ou urbanas: das cerimónias de toka-tchur às de gammoh, do fanado ao karga-kabás.

No passado recente também havia tempo para celebrar o ‘Dia da Nacionalidade’. Mas os fundadores do ‘estado de direito democrático’ e os seus pares sobreviventes do ‘estado de democracia revolucionária’ roubaram-nos não só o direito de celebrar o dia, mas também o prazer de sentirmos a nossa nacionalidade. Ficamos todos órfãos. E como consolação vimos emergir a ideologia do tafal-tafal, que canonizou a política de ‘desvios de procedimento’ e elegeu a incompetência e a vassalagem como desígnios da governação. Minaram os alicerces da identidade nacional, pretenderam transformar os sonhos de todo um povo heróico em mera utopia e nulidade, à imagem e semelhança dos edifícios de Bolama.

Mas, e agora? Será que depois de tanta turbulência, tanta desilusão acumulada, tanto kasabi no corpo e na alma, ainda faz sentido esperar que “Cantem o mar e a terra / A madrugada e o sol / Que a nossa luta fecundou”?

Eu acredito que sim! Mas se me perguntarem porquê, recusar-me-ei a responder. Sim, isso mesmo. Só pedirei uma coisa: lembrem-se que estamos em Setembro, a altura do ano em que na nossa Pátria Amada se renovam as esperanças e se alimenta os espíritos. É o mês da fecundação, em que as ideias de alguns se transformam em ideais partilhados por muitos.

Mas se me perguntarem como, ah, aí não pouparei palavras. Pedirei a todos os Homens de Cultura que abracem a patriótica missão de resgatar o nosso passado e dele fazer o alicerce de um futuro risonho, de prosperidade e solidariedade. Aos nossos músicos, pintores e poetas exigiremos os sons e os tons para anunciar a bonança, semear a crença num advir de dignidade e de sabura que, aos olhos e no espírito de todo o guineense, seja não só exequível como exigível.

E o escritor? Sim, que papel para os djidius de caneta? A esses fica desde já reservada a mais sublime de todas as missões: forjar um genuíno ‘senso de perspectiva’, consubstanciado na inabalável crença na renascença e nos novos padrões de identidade, que fará acalentar a certeza de que, sim, a profecia será concretizada: “Nós vamos construir na pátria imortal a paz e o progresso”.

Celebremos essa fé. Celebremos de novo a nossa Nacionalidade! Em Setembro e para sempre.

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