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Quem dá mais?

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    Quem dá Mais? ( Ou a tragédia anunciada da nova geração de djilas di kuru [1])   “… o único ser que poderia talvez contemplar um espectáculo tão sem esperança , e abranger sua falta de sentido, teria de ser um deus. Era isso! Talvez os homens tivessem inventado os deuses para sentirem o que não podiam sentir, e achassem conforto na compaixão que os deuses sentiam por eles … ”[2] Na viragem deste que a muitos títulos e em várias partes do planeta foi um ano de barbaridade suprema, não param de circular mensagens marcadas por uma flagrante ‘ falta de sentido’ , tão-somente replicando a velha retórica, ignorando, por convicção ou por conveniência, o pulsar do quotidiano dos novos ‘condenados da terra’. É como se nada tivesse acontecido – e o que está a acontecer não fosse nada, absolutamente nada! Face à tamanha ‘falta de sentido’ (e de sentimento?) é todavia bem evidente que a realidade (entenda-se espectáculo) é por demais viva e colorida, bem patente aos o...

Uma decisão binária

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      Uma decisão binária “Os meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros.  Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever  – inclusive a sua própria História.” Bill Gates Há um mês, no decorrer de um evento organizado com toda a pompa e circunstância, fui chamado ao palco para receber uma condecoração, uma distinção que ao fim e ao cabo não era (só) minha. A emoção experimentada sob os focos de luzes coloridas e de olhares curiosos despoletou em mim uma sucessão de sensações antigas, datadas de décadas, vividas na Catió da minha infância, nas noites de luar e de festa que intercalavam os dias de bombardeamento. Enquanto subia os degraus da escada que dava ao palco, desfilava no meu cérebro uma cena inédita ocorrida numa dessas sessões de dança, animadas pelo exuberante Bacar 'djahlo' , o melhor tocador de tambor que Catió conheceu. Uma jovem e descuidada mulher, demonstrando perícia artística sem igual, parecia ign...

Anatomia de um desaire anunciado

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    Anatomia de um desaire anunciado   “É mais fácil sujeitar-se a um regime do que combatê-lo.” Ernest Hemingway In ‘Por quem os sinos dobram’  Que sentido faz falar-se de legalidade e legitimidade, por mais pertinente que seja, num contexto em que a própria Constituição do país é menos valorizada que o papel que alguns de nós usam depois de fazemos aquilo que se sabe que "s elbst der Kaiser muss es selbst tun " [ até o imperador tem que fazer por conta própria ]? Deserdados Este é um desabafo, aceitemo-lo assim, carregado de uma boa dose de desilusão (e outros desencantos), desferido à queima-roupa durante um sintadu recente, num início de tarde em que até a meteorologia parecia frustrada, convocando vadias nuvens a uma manifestação ruidosa e tumultuosa, transformando as ruas em leitos de riachos e os becos em lagoas de águas agitadas, cuja trajectória fazia lembrar manobras de um kankuran tchaskiado . O mais relevante desse desabafo, toda...