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A mostrar mensagens de 2021

Tera di kriason

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  Há que lembrar, a uns e a outros, que se há um facto que marca a nossa História é a recusa determinante e permanente do estatuto de ‘tera di kriason’.   We refuse to be What you wanted us to be We are what we are That's the way it's going to be, if you don't know Bob Marley , in “Babylon System”                  Há quem acredite que toda a produção literária engendra um momento de catarse e que, para uma certa classe de poetas, quando esse exercício ocorre ao ritmo e cadência do eco do clamor do seu povo, aquilo a que alguns chamam de inspiração não é senão aspiração.  Não sei o que exactamente terá motivado Bob Marley a escrever o poema que tão bem foi musicado por “The Wailers”, mas de uma coisa estou certo: a mensagem (devo antes dizer exigência?) está em consonância com aquilo que ontem como hoje continua a ser aspiração – suprema e inquestionável – de todos os africanos, dos que vivem no continente-mãe e dos da diáspora.  Pode soar a declaração de frus

A Última Tragédia: um romance da Guiné-Bissau que não perdeu a sua explosividade

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                                                    De Ralf Julke, Leipziger Zeitung, edição de 05.08.2021 Os romances geralmente se inserem na época em que foram escritos. Os bons autores estão atentos às tragédias e histórias dos seus contemporâneos, conseguem captar a ambiência do seu tempo. É também o caso do romance “A Última Tragédia”, de Abdulai Sila, agora publicado pela primeira vez em alemão pela Leipziger Literaturverlag. Foi publicado pela primeira vez em português em 1995. Pois a terra natal de Sila, a Guiné-Bissau, foi uma colónia portuguesa até 1974. O seu romance ainda é sobre a época colonial. Foi escrito em 1984, conforme indicado no final do livro: Dresden, fevereiro de 1984. Abdulai Sila estudou engenharia electrotécnica na então RDA. Mais tarde, ele também estudou nos EUA. Hoje é gestor de uma empresa de comunicação na Guiné-Bissau. Com efeito, ter-se-ia desejado que o país encontrasse o seu caminho para um futuro pacífico após a retirada dos portugueses. M

Os novos desafios da intelligentsia guineense

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  Recebi ontem, dia 4 de Junho, um ‘ Diploma de Honra ao Mérito ’, atribuído pela Universidade Colinas de Boé (UCB). Com o título “ Fidju di Guiné Bali Pena ”, diz-se que o diploma foi concedido ‘ em reconhecimento do contributo decisivo dado para o desenvolvimento da literatura guineense, sua afirmação e esplendor no mundo ”. Com a devida vénia e profundo agradecimento aos mentores da iniciativa e a todos quantos marcaram presença no acto, gostaria de aproveitar esta ocasião para exprimir a minha opinião pessoal sobre o assunto. Antes de mais, acho conveniente realçar que, na minha perspectiva, o que está em causa não é a homenagem a um cidadão, mas algo muito mais profundo e relevante. Estamos perante uma mudança de paradigma. E o facto de essa mudança estar a ser protagonizada por uma instituição académica, faz com que o acontecimento adquira outra dimensão e uma significância mais abrangente. É que, na minha humilde opinião, esta iniciativa da Reitoria da UCB, com o cunho pes

Nos bastidores do kafumban

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(c) Safiatu L. Sila Mundu ten ki sabi / Pa no odjau di utru manera. Mundu ten ki rabida / Pa bu sedu alguin na bu roson.   Cobiana Djaz  - “Paulo Nanki” Que os politiqueiros da nossa praça, por hábito ou por mera conveniência, tenham que manter-se agarrados à prática de kafumban mesmo depois das campanhas eleitorais, já não surpreende. Agora, que certos concidadãos, alguns deles vistos (e que certamente quererão continuar a ser vistos) como pessoas de bem, enveredem pela mesma via, isso já é preocupante.   A trágica morte do jovem Bernardo Catchura é daqueles acontecimentos que nos abalam, nos apoquentam sobremaneira e, dando uma outra dimensão ao acontecimento, invadem o nosso quotidiano, revelando toda a nossa pequenez. É daqueles momentos de kasabi que nos interpelam a todos. A todos como quem diz… Quer dizer, a todos quantos, por incúria ou ingenuidade, ainda acreditam que a vida humana tem algum valor, que a dignidade deve prevalecer sempre e, acima de tudo, crêem