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O povo por testemunha

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  © Foto: A. Sila    O povo por testemunha " Miserável é o país que precisa de heróis ."   Bertolt Brecht, in   A vida de Galileu   Nada o deixava prever. Quer dizer, nada, é só uma maneira de dizer, porque na realidade, na realidade mesmo, ainda pairava algures, entre a irredutível paixão e a efémera redenção, o odor da dor . Odor de uma dor embutida na eterna ameaça de aborto. Paz, progresso, fraternidade e muito, muito mais… Tudo por que lutara e, harmoniosamente kibinidu , mantinha na sua mente prenhe de ambições. De sonhos. De convicções. Moldada em tempos de brasa, a crença começara a murchar cedo demais, vítima de todas as virtudes da omnipotência, sequestradora da sensatez e do discernimento. Por isso se impusera no kala-kaladu da desgraça a pertinência de duvidar, de preservar o culto do pensamento crítico; daí a conveniência de acreditar que ‘ dar nome a um mal era neutralizá-lo, quando não aniquilá-lo’ . Ciente do peso das suas convicções, enfrentava

Estudar e divulgar a obra de A.Cabral: uma missão actual

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  Prefácio à biografia de Amílcar Cabral Amílcar Cabral é mundialmente reconhecido como um dos maiores líderes de todos os tempos. O seu legado de liderança visionária, os seus ideais humanistas, a sua dedicação sem limites à causa da liberdade e justiça e a sua personalidade carismática são fontes inesgotáveis de inspiração e de motivação permanente para todos os africanos.   Em tempos de feroz globalização do pensamento neoliberal, em que a questão da descolonização das mentes assume uma preponderância particular, estudar a vida e a obra de Amílcar Cabral é ao mesmo tempo uma necessidade e um dever. É uma necessidade devido à urgência de reciclagem de paradigmas, isto é, de adopção de propostas regeneradoras, susceptíveis de fazer ressuscitar o sonho e a esperança num mundo mais justo, mais próspero e mais solidário. Num contexto caracterizado pela opressão e exploração, Cabral foi capaz de, através de uma liderança inspiradora, transformar fraquezas em forças, reinventar a fé nas pr

"Fui combatente do PAIGC, conheço a desilusão, mas vivo esta paixão da liberdade à exaustão" - uma leitura do romance Memórias SOMânticas

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      Autor: Mário Beja Santos Memórias SOMânticas , de Abdulai Sila, Ku Si Mon Editora, 2016, é um espantoso solilóquio de uma mulher que participou na luta, que confiava numa pátria livre e numa cadeira de rodas assiste à degradação do seu país. É o cântico de uma heroína anónima, uma narrativa escrita na primeira pessoa e num absoluto silêncio, é uma mensagem para o futuro, um tema de reflexão para as gerações que não conheceram a luta armada: “ Esta é a história de uma vida. Uma vida que quis ser vivida. Com paixão e dignidade. Pretendo narrá-la, porque a existência só se torna memorável se for narrada. A narração, quando oportuna, restaura a crença, abrevia qualquer recordação dolorosa e enobrece a vida. Atribui-lhe cor e reverência ”. E confidencia-nos ao que vem: “ Nunca escondi as minhas ambições. Onde está o sentimento de liberdade se o que mais ambicionamos tem que ser escondido ou disfarçado? Pior ainda, privatizado. Quero que tudo o que ambicione de verdade seja também